Aviso aos navegantes: Hoje o post tá comprido!
Alguém aí lembra do "Hey, Arnold!?"
Helga era amiga do Arnold, o tratava com desprezo e agressividade, mas amava-o secretamente, e tinha até uma espécie de "altar" erigido a ele dentro do seu closet. Eu tenho a minha própria Helga, assim como tenho a doce Pollyana. Minha não-tão-doce-porém-não-menos-amada Helga é a emburradinha da família. Nada agrada, nada está bom. É brava e tem nariz empinado - literalmente - e é muito, mas muito difícil (mesmo!) de agradar... Helga fica brava porque quase não falo dela nos posts... ela fica brava com tudo, aliás. A lei é mais ou menos assim: "Tudo que você falar pode ser usado contra você mesmo." Então, cuidado! OU, traduzindo : "Não mexe com quem tá quieto!" Por isso, quase não escrevo...
Não adianta ela empinar a carroça, eu bem sei que no fundo do seu "closet", onde nenhum de nós tem acesso, ela guarda seu próprio altarzinho... E nele, o seu amor secreto...
Tudo bem então, o post hoje não tem nada de engraçadinho. Porque é sobre minha Helga, também conhecida por Júlia. Passo a chamá-la pelo verdadeiro nome a partir de agora, primeiro porque o nome dela é esse, e segundo porque eu adoro esse nome.: Júlia quer dizer Juventude. E não tem nome melhor pra ela. Não pela idade em que se encontra, mas porque ela é a filha da minha juventude, do amor da minha juventude, dos sonhos da minha juventude... Infelizmente, ela carrega o pesado fardo da primogenitura, o peso dos erros que os pais cometem, principalmente, com o primeiro filho. É o peso dos sonhos frustrados, projetados sobre as costas dos filhos, sabe? Como aquela mãe que queria ser bailarina e obriga a filha a fazer balé, mesmo que ela não goste. Sorte minha que a Júlia ama balé. Ufa!
Enfim, chega de
mea-culpa, vamos ao que interessa. Essa semana teve o
open-house da escola da Júlia. Já falei um pouco sobre a escola dela neste post
aqui . Neste evento, todos os pais foram convidados a fazer o horário dos filhos,
exatamente como eles fazem no dia-a-dia. Mais ou menos assim: Primeira aula com professor X na sala Y, segunda aula com professor W na sala Z. Ela imprimiu o horário dela pra mim, junto com um
rabisco mapa da escola e lá fui eu. Achei a oportunidade incrível e pude observar um pouco das diferenças entre o Ensino Médio no Brasil e a
High School nos Estados Unidos. Algumas, eu já conhecia, mas vivenciá-las foi a primeira vez. Minhas impressões:
Primeira diferença: OS ALUNOS TROCAM DE SALA E NÃO OS PROFESSORES.
A escola dela é enooooorme, com três andares e várias alas, ou pavilhões, divididos por cores. ALA AZUL, BRANCA, ACQUA, VIOLETA, CINZA e por aí, vai. Cada uma das aulas acontece em alas diferentes. A primeira aula pode ser no primeiro andar da ala AZUL e a segunda aula no terceiro andar de outro pavilhão da ala VIOLETA. Deu pra entender? Então, toca o sino e os alunos saem correndo para chegarem na sala que terão a próxima aula. É estranho pra gente, mas acho bem justo. Primeiro, por questão de HIERARQUIA e VALORIZAÇÃO DO PROFESSOR. Não é o professor que tem que sair como louco, carregando suas coisas e encontrar o aluno feito um príncipe sentado confortavelmente em sua sala... Quem precisa do conhecimento deve buscá-lo. Literally. Segundo, porque as salas são equipadas para a matéria que é dada nelas, como na FACULDADE no Brasil. Fazendo uma comparação com a MEDICINA , que é a única da qual posso falar: a auula de Anatomia não pode ser no LABORATÓRIO de PATOLOGIA, porque os cadáveres estão na sala de ANATOMIA.

Aí entra a segunda diferença: CADA SALA TEM OS RECURSOS NECESSÁRIOS PARA A MATÉRIA QUE É MINISTRADA NELA. Por exemplo: A Sala de Matemática e Engenharia, tem os softwares, calculadoras, telas i-touch e toda a tecnologia apropriada para o ensino do Cálculo, incluindo alguns modelos de trigonometria. A sala da PRINCIPLES OF HEALTH (Princípios de Saúde) tem alguns modelos anatômicos e pia para lavagem de mãos, com bancadas para a realização dos traballhos. A sala de AQUATIC SCIENCE tem uma série de aquários que os alunos vão poder (vão precisar de ) montar e manter durante todo o ano, criando um ecossistema aquático e estudando nele os princípios de química e biologia. [Fiquei morrendo de vontade de fazer parte dessa sala, Quase me inscrevi como voluntária. O professor é um fofo - um senhor de uns 70 anos, com terno e gravata borboleta, oceanógrafo da US NAVY- apaixonado pelo que faz! Os alunos vão poder escolher os peixes que querem, as algas, os corais, etc. Pensa que delícia!( A Júlia disse que quer o Nemo e a Dory.) Também terão a oportunidade de ir a um navio de pesquisa no Golfo do México.] Eu não fui nas outras salas, mas posso imaginar o escândalo que devem ser as salas de teatro, de culinária, de música. Sei que nessa última tem todos os instrumentos, inclusive violoncelos e pianos...

Terceira diferença:
OS ALUNOS ESCOLHEM O QUE VÃO ESTUDAR. Existe um guia para o que eles precisam fazer, e tudo é computado em créditos. No decorrer dos 4 anos de HIGH SCHOOL, os alunos precisam de um número X de créditos pra se formarem, distribuídos entre as disciplinas. Então, todos têm que ter um número específico de créditos em Inglês, Ciências (Química, Biologia, Física), Matemática, Língua Estrangeira, Estudos Sociais (História e Geografia) e Eletivas ( matérias não necessariamente acadêmicas que vc escolhe). Você pode fazer créditos a mais, mas não a menos. Por exemplo: Júlia já tem os créditos necessários para língua estrangeira, pois cumpriu isso no Brasil, com
trocentas horas de estudo de Português ao longo da vida toda ( eles computam tudo, tive que trazer os boletins e histórico escolar). Então, ela não precisaria fazer outra língua - além do inglês, óbvio. Mas, ela optou por Francês como ELETIVA. Exemplo 2: Como ela já fez Física na oitava série, e no Primeiro Ano, já consegui os créditos pra isso. Aí, ela pode optar por outra matéria pra cumprir os créditos de Ciências - é a tal AQUATIC SCIENCE, mil vezes melhor que Física.
Para as matérias eletivas, temos mil e uma oportunidades, como FOTOGRAFIA, CULINÁRIA, MÚSICA, CORAL, TEATRO, CHEERLEADING (chefes de torcida), MODA, PINTURA, etc, etc, e etc...
E não pensem que é pra inglês ver , não. Quem opta por MÚSICA, por exemplo, geralmente são meninos-prodígio em algum instrumento, que farão carreira como músicos, sendo que alguns já tocam na Sinfônica de Houston... A outra eletiva da Júlia é o PERSONAL HEALTH. Nessa disciplina, ela vai ter oportunidade de entrar em hospitais e aprender
in-loco: muito popular entre alunos que querem seguir carreira na área de Saúde. Daí nasce a quarta diferença:
CADA SALA TEM ALUNOS DIFERENTES, DE ANOS DIFERENTES. Por exemplo: na língua estrangeira, tem a opção de francês, alemão, italiano ou espanhol. Você pode escolher qualquer uma delas... Para cumprir os créditos de Ciências, existem muitas opções, inclusive a tal Aquática. Existem várias opções compatíveis com o seu ano acadêmico. Além disso, existem matérias que comportam alunos de diversos anos escolares. Exemplo: a aula de Pré-Calculo é tipicamente de Seniors (12º ano - equivalente ao nosso 3º ano), mas a Júlia faz essa aula sendo Junior (11º ano, nosso 2º) , porque é muito inteligente ;) . Disso, tiramos uma conclusão: o conceito de turma é um pouco diferente do que temos no Brasil. A turma se organiza em CLASSES. A Júlia é da CLASS OF 2014, ou seja, alunos que se formarão em 2014 . São aproximadamente 600 alunos, distribuídos nas mas diversas salas, alas e pavilhões...
Também é possível ganhar créditos de Universidade ainda no Ensino Médio - são os chamados AP courses - advanced placement - em que o nível é mais alto, mais difícil. Porém, uma vez, concluído com sucesso, o aluno não precisara daquela matéria na universidade. A Matemática e o Inglês da Júlia são AP courses. Isso dá a ela uma vantagem, visto que as Universidades vêm com muito bons olhos os alunos que optam por este tipo de curso.
Quinta diferença: OS ALUNOS NUTREM UM VERDADEIRO AMOR PELA ESCOLA.
Cada escola tem identidade própria e os alunos se sentem parte dela. É um orgulho, uma sensação de pertencimento, coisa invejável. As escolas têm seus mascotes - eu não sei bem se o nome seria esse - Geralmente, mas não necessariamente, é um animal que simboliza a insituição a qual pertencem e todos os alunos daquela escola são reconhecidos como o tal animal/símbolo. São muito utilizados com propósitos atléticos, mas vai além disso. Na Memorial High School, são os MUSTANGS - cavalos americanos avermelhados do Oeste ( trazidos da Espanha, pois a América não tem cavalos, originalmente falando...). É só lembrar do High School Musical - eram os WILDCATS (gatos selvagens). Na escola da Beatriz, são os WARRIORS (guerreiros), mas também temos os LIONS, os EAGLES ( águias), SPARTANS (espartanos), e por aí, vai... Dessa diferença, surge a sexta: A ATLÉTICA É SUPER FORTE E ATUANTE. De fato, muitos alunos saem da High School com as vagas nas Universidades garantidas, pelo seu perfil como jogadores. Um dos colegas da Júlia é atleta olímpico - pratica Arco e Flecha. Um adendo: Há no TEXAS, atualmente, 1100 (hum mil e cem) alunos que não frequentam a High School regularmente, como os outros alunos - fazem os créditos escolares pela Internet, pois são OS ATLETAS QUE DISPUTARÃO AS OLIMPÍADAS DE 2016 NO BRASIL.

Outras diferenças são observadas nos hábitos e comportamentos dos alunos e pais. Muitas vezes, vão pra escola com a roupa que dormiram - chegam amassados, com "camiseta de político" e chinelos de dedo ( a escola pública não tem obrigatoriedade de uniforme). A maioria esmagadora dos alunos leva o lanche (almoço) de casa. (Não compram na cantina da escola.) Levam seus sanduíches e frutas nas sacolinhas de papel - as famosas paper bags (como as nossas sacolas de pão francês, só que pequenas). Apesar de pública e de qualidade, a escola é financiada também pela generosidade dos pais - leia-se: de pequenos trabalhos voluntários de mães donas-de-casa a volumosas quantias de dólares doados pelos pais abastados. A maioria se envolve, de alguma forma. Eu já vou me cadastrar para o voluntariado - já que a volumosa quantia de dólares está fora de cogitação, no momento.
Posso dizer que me sinto privilegiada de ser uma Mustang MOM ( mãe de uma Mustang).
Go, Mustangs, Go!